Entrevista com Juliana Terao (2016)
Ela define o xadrez como "arte e cálculo". Juliana Terao, atual campeã brasileira, participou pela 5ª vez de uma Olimpíada de Xadrez, desta vez em Baku. Amante da Siciliana e fã de Judit Polgar, prefere o jogo com os cavalos. Gentilmente forneceu esta entrevista ao Xadrez Sem Mistério.
Ednilson Rosas: Como que é a emoção de representar o Brasil num evento tão relevante como a Olimpíada de Xadrez?
Juliana Terao: Acredito que representar o seu país em uma olimpíada seja o sonho da maioria, se não, todos os atletas. Apesar de já ter sido a minha quinta olimpíada, a satisfação e a alegria de representar o Brasil nesse torneio tão importante não diminui, pelo contrário, só aumenta.
Ednilson Rosas: Com o advento das redes e midias sociais, aproximando muito mais as pessoas apesar da distância, como você sentiu a torcida pra você individualmente e para o grupo?
Juliana Terao: Eu sei que o pessoal torce e fica acompanhando as partidas ao vivo, isso é muito legal, ver que tem gente torcendo por você e tal, mas eu particularmente quando estou em torneios não costumo acompanhar muito as redes sociais. Este ano a CBX lançou um canal no YouTube com análises e comentários de alguns matches, achei essa iniciativa bem bacana.
Ednilson Rosas: É diferente competir num evento desta grandeza? Você fica mais tensa e nervosa ou leva numa boa?
Juliana Terao: Com certeza a responsabilidade em um torneio desse nível pesa um pouco, as partidas são transmitidas ao vivo e além do mais é um torneio em equipe então você não pode ter um pensamento individualista, tem que pensar no time, ver como estão as mesas da sua equipe, logo certamente é diferente de um torneio como um Open ou um campeonato nacional. Tensão e nervosismo sempre há um pouco querendo ou não, mas acredito que eu consigo controlar isso numa boa.
Ednilson Rosas: Como foi a preparação para jogar uma olimpíada?
Juliana Terao: Este ano foi uma preparação mais prática, joguei três torneios na Europa, onde dois deles tinham o mesmo ritmo da Olimpíada, o que foi um bom aquecimento pré Olimpíada.
Ednilson Rosas: As mulheres são conhecidamente muito competitivas entre si. Como foi a relação entre as atletas? Deu pra se divertir em algum momento juntas?
Juliana Terao: A relação da equipe foi muito boa, onde sempre estávamos pensando na equipe em primeiro lugar e depois em nós mesmas. O torneio é bem corrido, mas tivemos bons momentos durantes as reuniões da equipe; as refeições, o dia livre, etc.
Ednilson Rosas: Vocês tinham contato com a equipe masculina?
Juliana Terao: Sim, mas como disse, é um torneio bem corrido.
Ednilson Rosas: O que achou da organização do evento?
Juliana Terao: Das cinco olimpíadas que disputei, essa de Baku com certeza foi a mais organizada e a mais divulgada em toda a cidade, ônibus com tabuleiros de xadrez para os passageiros, táxis com imagens de xadrez estampadas em sua lataria, muitos tabuleiros gigantes espalhados pela cidade, etc.
Ednilson Rosas: O que precisamos fazer para que o xadrez seja um esporte com maior apoio e com maior número de adeptos no Brasil?
Juliana Terao: O xadrez precisa de muito investimento, acredito na aplicação do xadrez nas escolas como grade curricular e patrocínios para os profissionais.
Ednilson Rosas: Quais os seus planos de futuro? Quais os próximos passos?
Juliana Terao: Treinar mais, aprender com os meus erros e continuar em busca do título de WGM.
Entrevista concedida a Ednilson Rosas
Suzanense, 31 anos. Formada em Administração de Empresas e em Gestão de TI. Jogadora profissional de xadrez. FM/WIM e Hexa Campeã Brasileira.
BREVE HISTÓRICO
Juliana aprendeu a jogar Xadrez com seu pai quando tinha seis anos; no começo não deu muita bola para o jogo, mas, como sempre acompanhava seu irmão mais velho, o Mestre FIDE Rodrigo, logo começou a ter mais interesse pelo esporte. E, assim que tomou gosto, não parou mais de jogar. A sua primeira conquista foi o Campeonato Paulista Dente de Leite (categoria sub 8 feminino) em 1999; logo depois, em seu primeiro brasileiro, no ano 2000, ficou em 3º lugar (categoria sub 10 feminino). No ano seguinte, foi campeã brasileira (categoria sub 10 feminino) pela primeira vez. Seu primeiro título internacional foi em 2002: aos 11 anos tornou-se Campeã Pan-americana (categoria sub 12 feminino) e, assim, conseguiu o título de WFM (Woman FIDE Master). Nos anos seguintes, conquistou mais três títulos de campeã pan-americana, além de diversos títulos brasileiros e estaduais. Em 2008, aos 17 anos, conseguiu sua primeira vaga na equipe olímpica brasileira feminina para representar o Brasil na 38ª Olimpíadas de Xadrez, em Dresden – Alemanha. Desde lá, representou o Brasil em todas as Olimpíadas. Aos 20 anos, ganhou o Campeonato Sul-Americano Juvenil, o que lhe concedeu o título de WIM (Woman International Master). Durante seu período acadêmico, Juliana representou o Brasil em dois mundiais universitários. Em 2012, conquistou o seu primeiro Campeonato Brasileiro Feminino Adulto e, em 2016, conseguiu o seu bicampeonato brasileiro; já em 2017, conquistou novamente o Brasileiro Feminino, com uma excelente performance (8,5 pontos em 9 possíveis). Desse modo, foi a primeira brasileira a ultrapassar os 2300 de rating FIDE e a tornar-se Mestre FIDE (MF). Novamente venceu a final do Campeonato Brasileiro Feminino em 2018 e 2019, chegando ao título de hexacampeã brasileira feminina.
Comentários
Postar um comentário