Entrevista com o MI Diego di Berardino (2016)

 


Ele é carioca, tem, 29 anos, atualmente o 10° no ranking nacional (FIDE), começou a competir aos 9 e sua maior conquista pessoal foi a vitória contra Gata Kamsky, na Copa do Mundo de 2011 na Sibéria, Russia quando este tinha 2741 de rating e era top 20 do mundo.

Diego Berardino é uma pessoa extremamente calma e isso fica muito evidente em seu modo de falar. Esta característica tem tudo a ver com seu estilo "clássico posicional" (segundo seus amigos do xadrez o classificam).

Ele participou de sua primeira Olimpíada de Xadrez em Baku, Azerbaijão em setembro deste ano e gentilmente nos deu esta entrevista:

Ednilson Rosas: Como que é a emoção de representar o Brasil num evento tão relevante como a Olimpíada de Xadrez?

Diego Berardino: É uma emoção muito grande! Desde que comecei a jogar, quando era criança, sonhava em defender o Brasil numa Olimpíada. Para nós, jogadores de xadrez, é mais ou menos como um jogador de futebol quando ele é convocado para a Copa do Mundo. Então você pode imaginar como é jogar uma Olimpíada, defendendo seu país, onde estão todos os melhores do mundo, é algo inigualável!

Ednilson Rosas: Com o advento das redes e mídias sociais, aproximando muito mais as pessoas apesar da distância, como você sentiu a torcida pra você individualmente e para o grupo?

Diego Berardino: Eu acho que é muito positivo. Ainda dá mais força pra gente, mais motivação esta torcida. É claro que, durante o torneio, a gente tenta não acompanhar tudo porque, lógico, tira um pouco do nosso tempo, mas a gente olha um pouquinho no Facebook e tal, mas é muito legal saber quanta gente tem no Brasil torcendo. E mesmo no nosso esporte que ainda não é tão popular no Brasil, mas tem muita gente torcendo. Acho que isso motiva ainda mais pra fazer o nosso melhor e tentar se superar lá na Olimpíada.

Ednilson Rosas: É diferente competir num evento desta grandeza? Você fica mais tenso e nervoso ou leva numa boa?

Diego Berardino: Acho que antes do início sim eu estava mais tenso e nervoso do que o normal, mas é porque é bem diferente mesmo competir num evento desses. Mas depois a gente foi se aclimatando e aí era mais a tensão de jogar contra grandes adversários, e de jogar uma competição por equipe. Na medida que o torneio foi avançando a gente foi ficando, digamos assim, acostumados com ele e só ficou aquela tensão natural do jogo.

Ednilson Rosas: Como é a preparação para jogar uma olimpíada?

Diego Berardino: Nós fizemos algumas sesões te treinamento por skype. Não houve um programa de treinamentos específicos com algum treinador experiente que eu acho que algo que poderia ajudar a gente. Nós fizemos alguns treinamentos por skype com membros da equipe e cada um na sua preparação normal indivuidual. Esta foi a preparação na parte técnica do time.

Acho que alguns times de países que têm mais tradição no xadrez certamente fazem um treinamento elaborado com vários meses antes da disputa das Olimpíadas. Acho que um programa de treinamentos assim poderia ajudar bastante no desempenho da equipe.

Ednilson Rosas: Essas sessões via skype foi entre os atletas? Quanto tempo durava uma sessão dessas?

Diego Berardino: Sim, essas sessões eram entre os atletas, mais ou menos uma vez por semana, durante uns três meses e duravam, mais ou menos, de três a quatro horas. A gente tentava exercitar nosso cálculo de variantes, mas era entre nós atletas mesmo.

Ednilson Rosas: Então o foco da preparação foi variantes de aberturas ou houve outro tema?

Diego Berardino: Não, na verdade nosso foco foi tentar melhorar nossa análise, nosso cálculo de variantes e não preparação de variantes em aberturas. Principalmente exercitar o nosso cálculo de variantes. A gente acha que se você estiver calculando bem e chegar com seu cálculo bom na Olimpíada isso dá um plus no seu jogo. A gente achou que era o mais importante para a preparação para a Olimpíada. Esse foi o foco principal.

Ednilson Rosas: Como foi a relação entre os atletas? Deu pra se divertir em algum momento juntos?

Diego Berardino: Entre nós, atletas da equipe, foi a melhor possível. Relação super cordial e de companheirismo. A gente teve um dia livre e saímos um pouco pra conhecer a cidade e também saímos uns dias para comer fora e avaliar a comida. Esses foram os momentos de diversão que tivemos, mas estávamos focados mesmo no torneio.

Ednilson Rosas: Houve alguma história engraçada, cômica ou curiosa entre vocês nesta viagem?

Diego Berardino: Tem uma história interessante após a última rodada contra a Áustria, terminei minha partida empatada no quarto tabuleiro e veio um senhor que era o capitão da Áustria me falar que um determinado lance que o meu adversário da Áustria fez era ruim. Ele veio perguntar cheio de humildade e eu respondi que sim, que o lance não foi bom e que depois do lance eu fiquei com uma vantagem boa. Foi interessante porque depois eu vim saber que este senhor é o Zoltán Ribli que foi um grande jogador da Hungria por muito tempo da equipe Olímpica e que chegou a vencer uma edição em 1978 e foi candidato a campeão mundial. Um grande jogador que eu conhecia das partidas dele mas não conhecia a fisionomia dele. Então foi uma história interessante

Ednilson Rosas: Vocês tinham contato com a equipe feminina?

Diego Berardino: Sim, estávamos no mesmo hotel e torcíamos por elas. Mas na parta enxadrística não muito pois elas tinham o treinador delas, o Renato Quintiliano, e nós estávamos focados em nosso torneio, mas sim, convivemos durante a Olimpíada sim.

Ednilson Rosas: O que achou da organização do evento?

Diego Berardino: A organização foi ótima, grande estrutura para receber o maior evento do nosso esporte. Realmente não dá pra criticar em nada. Uma grande estrutura montada, grande numero de voluntários, o transporte era bom, o local de jogos era excelente, os hotéis eram bons, só tenho a elogiar a organização do evento. Muito legal a gente ver uma organização enorme pro nosso esporte. Achei muito legal isso.

Ednilson Rosas: O que falta nos dirigentes do xadrez do Brasil para que sejamos capazes de sediar um evento como este?

Diego Berardino: Então, acho que pra ter um evento desses precisamos atrair patrocinadores fortes e pra isso precisa de mídia, pra mídia precisa de público, e pra ter público acho que precisaria massificar um pouco o esporte no país. Temos como exemplo a Argentina, país irmão, que já sediou duas Olimpíadas, que é um país com bastante tradição no xadrez. Acho que precisamos de alguma forma massificar o xadrez principalmente a partir da base pra gente aumentar nosso público e criar uma tradição no país. Acho que isso levaria às outras coisas que são necessárias para realizar um evento desses.

Pra completar, lá no Azerbaijão todo dia tinha uma matéria na TV sobre o dia no torneio, algumas personalidades faziam o lance inaugural. Um dia foi o Presidente, outro dia foi a Primeira-Dama, e outras personalidades, enfim você vê que o xadrez é levado bastante a sério naquela região.

Ednilson Rosas: Quais os seus planos de futuro? Quais os próximos passos?

Diego Berardino: Bom, estou num momento de indefinição porque eu divido a minha carreira com a profissão de desenvolvedor de software. Gostaria até de poder me dedicar mais ao xadrez e tentar fazer algum plano para virar GM e tentar vaga na próxima Olimpíada em 2018, mas eu estou num momento de indefinição me dividindo com minha profissão.

Ednilson Rosas: Você pretende disputar o campeonato brasileiro? Quais suas chances?

Diego Berardino: Não sei ainda pois eu teria que disputar a semi-final pra tentar classificar pra final e também depende de disponibilidade no trabalho e depende muito disso a questão de disputar ou não o campeonato brasileiro. Antes de pensar na final tenho que disputar a semifinal.

Entrevista concedido ao Ednilson Rosas.

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